Queridos,
esta história começa com uma Julia levemente (pouca coisa) mais jovem, com seus 26 aninhos. Eu estava em um bar chamado Pensão Amor (antigo prostíbulo convertido em night lisboeta), conversando com uma cartomante que cobrava 5 euros pela leitura (o que, para padrões brasileiros, era uma pechincha). Na época, a minha maior preocupação nesta vida era: vou conhecer alguém? Eu estava morando em Madri há alguns meses, e ficaria na Europa por mais seis. Antes disso, todas as vezes em que eu havia feito essa pergunta às cartas, as cretinas se desviavam do assunto e as respostas eram sempre totalmente genéricas, sem nenhuma certeza. Escrevendo aqui agora, eu consigo ver o porquê disso, né. Que pergunta é essa? “Vou conhecer alguém?”, hahaha! O que eu queria saber, é claro, era se eu um dia encontraria um grande amor. Minha primeira e única experiência mais séria nesse setor tinha acabado três anos antes de maneira bastante dramática (na verdade foi bem pragmático, mas as repercussões – ou a fossa – foram demoradas). E depois dela eu nunca mais tinha tido aquele sentimento de certeza de que estava com a pessoa com quem eu realmente deveria estar. Em parte, esse sentimento não surgia com ninguém (now I know) porque eu estava longe de estar pronta para viver o que eu viveria mais tarde, com o Alejandro. Em parte, porque acho que os astros têm um jeito engraçadinho de guiar as coisas de modo que elas aconteçam não quando a gente quer, mas quando têm que acontecer.
Voltando para a cartomante. Eu comecei a consulta descrente (uma cartomante num bar?), mas foi ela começar a falar que eu fiquei atônita. Em uma época em que quase ninguém conseguia entender tudo o que eu estava sentindo (foram tempos confusos), aquela estranha falou em poucas palavras exatamente – exatamente – o que eu mesma não conseguia direito conceituar: que eu estava reclusa e fechada porque estava me conhecendo e me preparando para viver o que eu tinha que viver, que não estava sendo exigente demais quanto aos caras que conhecia, mas que eu sabia exatamente o que eu queria e por isso não settled for anything different, e que não era para eu me preocupar, que na hora certa – e não demoraria muito – as coisas aconteceriam. E ela falou isso com tanto carinho que eu acreditei em cada palavra.
Um ano e três meses depois disso, eu estava em solo brasileiro, já trabalhando na editora em que fiquei até o ano passado, quando recebi uma mensagem da minha irmã e da minha prima Sarah. A Bel, que estava numa festa da abertura da Copa com a galera da minha prima, falou que tinha conhecido o cara perfeito para mim. Depois, veio um e-mail da minha prima com uma foto da vítima:
Alejandro (de camiseta cinza) se encontra aqui ao lado do marido da minha prima, inocentemente sem saber que estava sendo fotografado. O assunto desse e-mail era “seu futuro marido”. Hahaha, a gente pode ser bem maluca às vezes, né? Contando agora me sinto uma personagem dos romances da Jane Austen – a família conspirando para formar um casamento.
Enfim, o que chegou a mim com esse e-mail é que ele morava em Londres, mas que era um fofo. Eu fiquei meio desanimada com a informação de Londres, mas decidi conhecer mesmo assim. Detalhe: Alejandro era veterano da Sarah, que deve ter começado a faculdade de RI em 2002, ou algo assim. Ou seja, em 2014, já faziam uns bons 12 anos que eles se conheciam. E eu só estava sendo apresentada para ele agora – se isso não são astros governando esta vida, não sei de nada mais.
Depois de ler a Susan Miller falando no meu horóscopo mensal que eu ia conhecer o meu true love, decidi que a boa era seguir à risca as datas orientadas por ela. Ela dizia:
“Things will only get better and better. On the new moon in Cancer, 7 degrees, your true love house, June 27, life is about to get VERY romantic. You will see that to be true in July too. This new moon will be in perfect angle to Neptune, your guardian planet, which means you will benefit from this new moon more than most Pisces. Neptune is the higher octave of Venus, which means that while Venus teaches the value of having fun and helps you find the one who sparks something in you, Neptune brings love to a new level, where you find you love so much, you are willing to sacrifice something for you so that your beloved can benefit. It is love on the deepest, most spiritual level.
(…)
On the ensuing weekend, June 28-29, the Sun will work closely and in a positive way with Neptune, one of the most sentimental and tender places for the Sun to be. Make that last weekend of June special, dear Pisces.”
Sarah, então, escreveu para ele no dia ordenado pela Susan (18 de junho), e ele respondeu super rápido! Eu respondi marcando para o dia 27 um encontro. A Sá ainda falou que era muito em cima da hora, que ele voltava para São Paulo no dia 03, que era para marcar antes. Ao que eu respondi: “cara, eu pensei nisso de 27 ser mto em cima da hora, mas acho que vou levar a susan a serio, pq logo antes do dia 27 serao dias ruins para a vida. e aí dia 27 começa um periodo lindo. eu nuuuunca sigo essas coisas a serio, mas deu tao certo com o emprego, hahahaha. ai ceus. mas dps do dia 27 ainda tem uma semana! e sp é ali do lado! e agora ja mandei, ne.” Um lindo e-mail sem acentuação ou maiúsculas. :)
Logo depois disso, eu ASSINEI a Piauí para ler os textos dele. Ele já tinha publicado dois na revista naquela época, e eu tava tão obcecada por causa da Susan Miller que tinha decidido ir com tudo. (E não é por nada, mas esses dois textos dele são incríveis – até hoje estão fechados para assinantes, mas aqui vão: o primeiro e o segundo.) Ler os textos foi uma coisa boa, porque fiquei com mais vontade ainda de conhecê-lo, mas também me fizeram ficar um pouco intimidada. Sabe quando a pessoa parece ser tão incrível que você começa a pensar no que diabos ela poderia ver em você?
Chegado o dia auspicioso do nosso encontro, eu estava uma piiiiilha de nervos. Marcamos no bar Paxeco (ou Paxeco bar, já não me lembro), no Horto. Já estava começando a fazer um friozinho no Rio (Alejandro até usava jaqueta de couro – fato que se repetiria pouquíssimas vezes nos anos por vir) e eu decidi usar minha kilt escocesa e um suéter rosa bebê que eu tinha.
Chegando lá, sentamos numa mesa, eu pedi um drink de limão com leite condensado para beber (que eu bebi a conta-gotas ao longo da noite toda) e ele pediu algo menos ridículo (e repetiu o pedido váááárias vezes ao longo da noite). O início da conversa me fez querer esconder debaixo da mesa: ele me perguntou se eu conhecia um autor, depois outro, depois outro. Deve ter perguntado sobre uns sete caras e eu respondi que não para todos. Aí acho que ele percebeu que não estava sendo um tópico muito frutífero e mudamos de assunto. In no time, a conversa engatou e estávamos nos divertindo muito. Descobrimos várias coisas em comum (muitas mesmo: ambos temos famílias maternas do interior do Brasil, ambos passamos períodos da infância nos Estados Unidos, ambos são meio ansiosinhos). Quando ele se levantou para ir ao banheiro, eu peguei meu telefone para atualizar as amigas: ele é PISCIANO (ou seja, o horóscopo vale para ele também, em dobro!, além de ser um signo bacaninha, né – pelo menos eu acho, hehe) e eu estava amando estar com ele. E quando ele voltou, me deu um beijo. Eu saí de lá sabendo que a gente não ia mais se separar (dessas coisas que a gente realmente não sabe explicar, mas sente e sente com uma convicção que só pode vir do além).
No dia seguinte, quando ele me chamou para sair de novo, eu não podia porque estava indo comer pastel com minha família (a Lola estava começando a passear, depois de todas as vacinas e estávamos fazendo vários programinhas para levá-la pra rua). O Alejo achou que eu poderia estar me esquivando de um second date, mas logo depois marcamos mais um encontro, e outro e outro. A volta dele a São Paulo que aconteceria dia 3 não aconteceu, ele ficou aqui no Rio direto e nós passamos a Copa de 2014 assistindo os jogos de bar em bar, nas ruas alegres do Rio (o clima tava tão gostoso até o 7 a 1, né?). E foi no fatídico dia do 7 a 1, aliás, que ele conheceu minha família!
Esta deve ter sido a primeira foto que eu tirei dele, no chão do meu quarto na casa dos meus pais.
E esta foi desse iniciozinho também, pixelada e fora de foco, mas cheia de amor.
Um mês e meio depois, decidimos morar juntos, no fim do ano compramos a Pitu e a Chocho, e em 8 de julho de 2017 nos casamos. Mas isso vai ficar para outro post. <3